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Saúde mental no esporte

Atualizado: 25 de out. de 2021

A sensação do coração explodindo no peito, tremendo toda por dentro, suor nas mãos e por todo o corpo. Que desespero! Encarei esta situação muitas vezes na minha vida e o esporte foi meu ponto de equilíbrio e exposição ao mesmo tempo.


 

Analisando os momentos de sufoco hoje em dia, me faço várias perguntas. Como e quando isso começou? Onde me sentia mais à vontade? Primeiro, é difícil achar o primeiro momento em que senti isso pois sempre fui muito tímida e sofri muito com isso desde a infância. Acho que isso é uma característica minha que sempre esteve presente e que trabalho com ela diariamente até hoje. Os primeiros dias de aula, as provas orais, festas de aniversário, sempre foram momentos de tensão. Depois, comecei a ver que a minha timidez era extravasada toda vez que me movimentava. Me sentia bem nas aulas de educação física, correndo com amigos e brincando com primos.


Refletir sobre isso é relevante, pois eliminar as tensões e o stress do dia são muito importantes e fazer isso através do esporte é fator decisivo para a melhora da qualidade de vida. Afinal, nada melhor do que encontrar a válvula de escape com hábitos saudáveis.


Na minha infância e adolescência sofri muito com estas condições sempre que me expunha a alguma pressão, desde coisas bobas como pegar o ônibus pela primeira vez, como um momento de grande exposição em uma apresentação de um trabalho de escola. Aos 12 anos minha mãe me via como uma menina de extrema timidez e eu gerava nela muita preocupação. O suporte dela foi importantíssimo em vários momentos, sempre entendendo a papel do esporte nesse processo. Ela me inscreveu na academia de ginástica perto de casa, me incentivou no atletismo, inicialmente nas corridas de rua, e me sugeriu ir à academia mestre do Orlando Cani. Esta última intervenção foi um divisor de águas na minha vida pessoal e profissional, afinal é difícil descrever a importância do mestre Orlando na minha vida.


Dani Genovesi no lançamento do Livro do mestre Orlando Canicom a família
No lançamento do livro do mestre, com Alexandre, Julia e Antonio

Na corrida não sofria muito com os distúrbios de ansiedade e timidez, era um esporte individual e toda vez que competia só queria correr o mais rápido possível. Adorava estar competindo e o processo me fazia sentir forte, essa sensação era extrapolada para os momentos em que me sentia fraca e só. A timidez nesse momento só existia nas corridas, quando minha mãe – assim como todas as mães – ia gritar por mim, eu fugia e fingia não a conhecer (risos).


Foi no bodyboard, aos 16 anos, que os sinais da ansiedade foram mais latentes e causaram, inclusive, sintomas físicos. Sempre fui competitiva e aos poucos fui ganhando alguns torneiros, quando vi já estava disputando grandes campeonatos com a carga do favoritismo. O impacto das crises foi maior nesse momento, acredito que, pela adolescência em si pois já me sentia julgada e me preocupava constantemente com o que os outros iam achar de mim e de minha performance. Tudo era um verdadeiro drama! Conclusão: na véspera de todos os campeonatos ficava doente, com febre.


Foi nessa época conheci o mestre Orlando Cani, professor de Yoga e, hoje, um amigo da família tão querido e especial. Fui a sua academia por sugestão de minha mãe pois ela já suspeitava que as febres fossem emocionais e imaginou que as sessões com o Orlando seriam úteis, acertou na mosca.


Dani Genovesi com o mestre Orlando Cani após uma prática de meditação
Após ua prática de meditação com o mestre Orlando Cani

O mestre criou um método que foi sendo aperfeiçoado ao longo dos anos com muitos atletas e alunos que orientou, inclusive recomendo demais seu livro (encomenda: livro@orlandocani.com.br). Fui e sou guiada pelos seus ensinamentos do mestre até hoje, tudo que aprendi com ele foi relevante para minha vida pessoal e profissional e foi a minha salvação. Desde a primeira sessão tivemos como foco o controle da ansiedade e o uso da respiração como caminho para ajudar no autocontrole foi fundamental para contornar os momentos em que me via sozinha e com a sensação que o peito ia explodir.


A Yoga, instruções de meditação e respiração, os exercícios físicos, todas estas atividades foram a receita para o meu equilíbrio, as coisas aos poucos as coisas foram se readequando e consegui suportar os dias pré competição. Não ficava mais doente, foi impressionante! Cada competição era um aprendizado, uma vitória emocional e mental, independente do resultado.


Aos 18 anos, quando comecei no jiu-jitsu, eu já me sentia bem no bodyboard, fisicamente e emocionalmente. Era a típica casca-grossa, além destas atividades eu ainda corria e adorava musculação. Durante os treinos na academia estava tudo certo e voltava sempre feliz mesmo quando saia amassada. Isso mudou radicalmente quando comecei a competir. Não sei bem porque, mas mesmo sendo difícil, amo competir e sempre procurei estar competindo em alguma modalidade.


No jiu-jitsu a tensão e ansiedade que sentia nas competições foram muito mais intensos. Lutar dentro do ringue, com um adversário querendo fazer com você exatamente o que você quer fazer com ele, é desesperador. O pânico foi imediato. Mesmo com os aprendizados do Orlando os sintomas voltaram todos, inclusive as febres pré competição. Eu congelava, perdia pegadas e a minha força ia toda embora. Resultado: aprimorei ainda mais os métodos com o mestre e treinava o dobro da carga dentro e fora do tatame, pois tinha consciência que na competição eu estava com 40% da minha força e foco comprometidos.


Competi, competi muito, adoro competir. Sofro mas continua gostando, vai entender? Aos poucos fui criando gatilhos para minimizar a ansiedade e controlar os distúrbios causados. Identificá-los é primordial, só assim consegui entender como se manifestavam, as suas causas e como conviver. Digo isso porque hoje em dia com as redes sociais tudo isso é intensificado, isso não me afeta mais tanto, mas sei do poder que tem. A exposição e a potencial avaliação dos atos ao mundo todo é estarrecedor.


Dani Genovesi com o apoio da família e amigos na Itália
Sempre com o apoio da família e amigos, minha mães e How-how na Itália

A bike já foi um momento quase de redenção. Aos 30 anos, quando comecei, já estava mais amadurecida e as provas de ciclismo entraram na minha vida com um pacto de serem sempre momentos de curtição e alegria. Ainda sinto pressão, mas não fico doente. Sinto o peso dos patrocínios e ajudas financeiras que tive ao longo de minha carreira, sinto o peso dos meus sonhos nas minhas competições, mas me restabeleço com a minha ligação com o mestre, família e amigos. Aprendi a expor minhas fraquezas as pessoas que amo, a sentir a ajuda e suporte deles e sobreviver sendo feliz com a maioria das minhas escolhas. Com a ajuda de todos eu me sinto forte, e pronta para enfrentar novos desafios. Que venha os próximos!


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